segunda-feira, 27 de julho de 2009

Estudando René Descartes - 3º parte (visão de mundo)


No seu estilo claro mas pleno de construções, demonstrações e imagens ele nos dá as quatro regra do método:

a) jamais acolher algo como verdadeiro, a não ser que seja absolutamente evidente, e não acolher no juízo o que não seja claro e indubitável. É a regra da evidência.
b) a segunda regra, que tem um jeito matemático , diz para dividir as dificuldades em quantas partes fosse possível e necessário para resolvê-las.
c) a terceira regra é conduzir com ordem os pensamentos, começando com os mais simples e indo para os mais complicados, dos mais fáceis de conhecer para os compostos. Descartes também afirma, em outro trecho, que não se fia nos primeiros pensamentos. Na terceira regra é preciso fazer uma síntese da realidade complexa, que foi decomposta em partes menores.
d) a última consiste em fazer em toda a parte enumerações e revisões completas, para nada se omitir.

Leibniz zombou da aparente banalidade do método. Descartes aplicou-o e afirma que ele facilitou o desvelamento de certas questões, usando a razão como instrumento para tirar as dúvidas. Ele adverte que é um método que usou exclusivamente para si, como uma maneira de dirigir seu pensamento. Pois a razão, (bom senso) para Descartes, é o que há de mais bem distribuído no mundo, e o que diferencia a capacidade é o modo como cada um conduz seus pensamentos, chegando à resultados diferentes.

Como uma pessoa que está construindo uma casa, e necessita de um local para dormir enquanto a obra está sendo feita, Descartes fez uma moral provisória, para não permanecer irresoluto em suas ações. A primeira máxima é obedecer as leis e costumes de seu país. A segunda é ser firme e resoluto em suas ações e não ir adiante nas opiniões duvidosas ou falsas. Assim, com essa determinação podemos ser capazes de distinguir o que não é verdade. Derscates afirma que cada homem possui a noção inata do que é verdade. Deus dá essa noção, se, por intuição, temos muita certeza de uma coisa , ela é verdade. nesse ponto, Descartes valoriza a intuição, ao lado da razão. A menor distância entre dois pontos é uma reta, e não devemos ter remorsos de nossos atos. Descartes pretendia com isso se livrar de ter um espírito fraco e vacilante. A terceira máxima moral é primeiro vencer a si próprio, depois a fortuna, o destino. Primeiro modificar os desejos pessoais, e não a ordem do mundo. Tudo o que Descartes diz ter realmente em seu poder são os seus pensamentos. Assim nossa vaidade não toma conta e não remoemos nossos infortúnios nem lamentamos a falta de riqueza ou virtude.

Descartes prossegue dizendo que a melhor ocupação é cultivar a razão. É o que melhor podemos fazer, pois é impossível dominar o universo e o que não atingimos é inacessível. Descartes, ficou rolando nove anos pelo mundo, vivendo sem luxos desnecessários, e solitário. Realizando meditações metafísicas, chegou à dúvida metódica. Para se passar do pequeno Eu, (que é subjetivo e depende de muitos fatores para ser conclusivo) para o mundo objetivo é necessário tomar como certas algumas coisas. Mas, supondo que tudo o que se vê é falso, sua memória é cheia de mentiras. Nesses parâmetros, a única coisa verdadeira é que não há nada de certo no mundo. Descartes realça que não estava sendo cético, pois esses são indecisos e ele buscava a verdade através da dúvida. Pois há uma força que engana sempre. Mas se ela engana, não se pode negar que se está recebendo a ação. Mesmo se não houver diferença entre o sonho e o estado acordado, ele pensa enquanto duvida. Assim Descartes chegou à verdade Penso, Logo existo (em latim: Cogito, ergo sum). Por pensamento Descartes considera tudo o que é de fato, e que nós nos tornamos conscientes disso. São pensamentos todas as operações intelectuais e da imaginação, bem como da vontade. Assim Descartes se fecha em sua subjetividade, na sua mente e pôde supor que não existe mundo. Mas a sua alma existe, e ela é puro pensamento. E um tópico interessante de sua teoria é a dualidade. A alma é uma substância distinta do corpo. E antes de confirmar como verdadeira a existência física do mundo, Descartes demonstra a existência de deus. Afirma que quem conhece é mais perfeito do que quem duvida. Tudo aquilo que ele conhece tinha de vir de alguma coisa. Ele acha que é necessário existir algo a quem ele depende e que seja perfeito. É a lei da causalidade, Deus é causa final de tudo. Descartes desenvolve o argumento ontológico para a existência de Deus. Antes dele, Santo Anselmo já o tinha feito. O Deus cartesiano é infinito, imutável, independente, onisciente, criador e conservador. Deus é uma idéia inata, que já vem junto com o nascimento. Deus garante a objetividade do mundo. Existem também as idéias factícias, construídas por nós mesmos, e as adventícias, que vem de fora. Descartes diz que existe uma luz interior dada por Deus, que dá confiança e certeza, pois é impossível que Deus seja mentiroso e enganador. E nossa consciência de Deus, do infinito, essa percepção que o homem pode ter da divindade e da perfeição é como “a marca do artista em sua obra”. Hegel mais tarde afirmou que é impossível ao homem conhcer o infinito, pois ele só pode empregar categorias finitas. E o ser humano erra, erro que provém do juízo. E no juízo o intelecto e a vontade influem. A pressão, influência da vontade sobre o intelecto se não for bem administrada resulta no erro do juízo. Como em Santo Agostinho, é o mau uso do livre arbítrio que faz o errado surgir. Meu intelecto como tal, em si, não é errado, mas meus pensamentos e atos podem ser.

Descartes afirma que a realidade exterior pode ser conhecida através da razão. As propriedades quantitativas são evidentes para a razão, as propriedades qualitativas são evidentes para os sentidos. Descartes fala da existência das substâncias, como a já citada alma e a extensão, ou matéria. A matéria ocupa lugar no espaço e pode ser decomposta em partes menores. Existe só um tipo de matéria no universo. O universo é composto de matéria em movimento. Não existe o espaço vazio, ou o vácuo dos atomistas. Visando a análise científica racional, Descartes chega à conclusão que os animais e os corpos humanos são autômatos, como máquinas semelhantes ao relógio. Na quinta parte do Discurso do Método, ele faz uma descrição fisiológica, o corpo é uma máquina de terra, construído por Deus, e suas funções dependem das funções dos orgãos. A alma está ligada ao corpo por uma glândula cerebral, onde ocorre a interação entre espírito e matéria. Na teoria mecanicista de Descartes, o corpo é uma máquina e deve entregar o controle das ações para alma. E Descartes afirma que a soma de todos os ângulos de um triângulo sempre será igual à dois retos. Essa frase foi tomada por Spinoza, a quem Descartes influenciou, e significa uma verdade, independente dos vai-e vem das opiniões baseadas nos sentidos.

Referência

René Descartes - biografia , idéias e pensamentos

Disponível em

http://www.consciencia.org/descartes.shtml


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